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Personagem real numa vida de ficção e "à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo".
Acordei, olhei pela janela e não chove. Dói-me a cabeça.
Levantei-me, liguei o aquecedor.
Casa de banho. O chão cheio de vidros de um suporte de uma vela que a Miss Lontra deitou ao chão em mais uma das suas noites de insónia. A minha vingança é acordá-la. Vou procurá-la, está no escritório a dormir. Como é surda assusta-se e digo-lhe "toca a acordar, se não dormires de dia à noite estás mais sossegada". Tomo banho, lavo os dentes.
Quarto. Oiço-o a roncar. Abro o guarda vestidos e tiro a primeira coisa que me vem parar às mãos, calças de ganga, camisola de gola (acho que não as vou deixar de usar este ano) preta.
Cozinha. ligo a máquina do café, ponho o pão na torradeira.
Sala. As revistas todas no chão mas como já a tinha acordado só olhei para ela. O companheiro da Miss está a olhar para mim com ar ensonado e zangado como só aquele gato sabe fazer, como quem diz "és sempre tu a acordar-me". Eu ignoro-o da mesma forma que ele me ignora sempre e todos os dias.
Cozinha. Abro o frigirifico, tiro a manteiga e barro na torrada. O relógio marca 9h certas. Como e bebo um copo de sumo de laranja (acordei cheia de sede), tiro um Brufen para a cabeça, tomo café.
Volto ao quarto. Desligo o despertador e o aquecedor. Pego no telemóvel, nos cigarros, no casaco, dou-lhe um beijo leve para não o acordar. Procuro as chaves. O companheiro da miss está à porta à espera que eu saia, deve ser a altura mais feliz do dia dele, o momento em que eu saio porta fora e eles ficam sozinhos. A miss está na sala a ver os passaros.
Saio. Chamo o elevador que é leeento. Piso -2. Percorro o estacionamento, saio e lá está o meu carro para mais uma viagem. Ligo o rádio na Antena 3, sempre a mesma estação já há anos. Venho pelo caminho a ouvir música, a fumar aquele cigarro que me sabe tão bem e a pensar que vou morrer num acidente de carro ou de cancro. Pondero fazer um testamento para os meus poucos bens.
Chego à terrinha e o boss já cá está. "Vais correr hoje?" referência às sapatilhas que trago calçadas. Sorrio e respondo "Bom dia" com um sorriso hipocrita e a pensar " queria tanto estar em casa".
Tiro o casaco. Visto a bata. Volto a sair para tomar café. Volto a fumar um cigarro e agora sim, agora estou pronta para aturar o povo. Mas não há povo para aturar, tirando um Sr. que caiu e ficou todo estragado na cara e com os óculos todos empenados, não houve mais nada para fazer.
Meia-hora. Tiro a bata, visto o casaco e vou almoçar.
Chego à minha mãe. Ainda estou a sair do carro e já oiço a vaca a ladrar na minha prima à espera de sair. A ninja está também à espera que abra a porta para sair a correr sem dar o "Olá" aqui à mãe. Está a perder-me o respeito...
Tinha rojões que comi no pão com preguiça de fazer um qualquer acompanhamento. Vi o resto do programa da manhã da Sic que era da Fátima Lopes e agora é da Rita qualquer coisa. Vejo as noticias. Adormeço.
Acordo. São 14h. Vou à casa de banho. Lavo os dentes, faço xixi, visto o casaco e regresso à loja.
Vou tomar café mas rápido, hoje não estou para conversas, não me apetece falar.
Ligo para a companhia da água aqui do sítio, a Indáqua e reclamo de uma avaria na via publica que já tem semanas, a água corre sem parar de dia e de noite. Um pecado.
Olho para o trabalho e penso "Hoje não... Não tenho paciência para papéis e facturas e cenas dessas". Volto para a net. Volto a ler as noticias já lidas e os blogues que continuam iguais.
Pego na revista do Sol e do JN do fim de semana. Farto-me rápidamente.
Pego no meu diário, não me apetece escrever.
Volto a pensar que vou morrer de cancro que já está em desenvolvimento sem eu saber e sem eu ter dado ordem para se instalar no meu corpo.
Olho para a rua, vou fumar um cigarro, pondero contar quantos carros passam enquanto eu fumo, desisti no 37.
São 17.30h vou tomar café. É a minha hora limite para tomar café. Volto já.
Olho para o relógio, 17.57h falta 1.33h para me ir embora... E a cabeça não deixou de doer.