- Não tenho explicação para o que fiz. Fi-lo porque quis, tive vontade, deu-me gozo. Não tenho doenças mentais para explicar o que quer que seja.
Comecei com pequenos animais, ratos, um dia qualquer na minha infância, se calhar estava chateado, aborrecido e um ratito pequeno atravessou-se no meu caminho e consegui apanha-lo e arranquei-lhe a cabeça com estas mãos. O cheiro a sangue inebriou-me, era quente, espesso. Dos ratos passei para gatos e cães. Na escola, depois das aulas ia para a rua e era muito fácil apanhar um cão abandonado. Bastava chamar por eles que eles vinham logo ter comigo e depois era com o que tivesse à mão. Paus, martelos, ferros e com as minhas mãos. O cheiro do sangue excitava-me. Cheguei a comê-los.
Os meus pais morreram cedo mas a minha irmã ficou a tratar de mim.
Eu tive uma infância feliz. Os meus pais tinham dinheiro, mandaram-me para a escola, tirei o curso técnico de administração. Namorei, nunca casei porque não quis, não me faltavam pretendentes. Matar os cães e gatos era um hobbie, uma altura arranjei uma espingarda mas desisti porque fazia muito barulho.
A carne de cão é boa se for da parte da barriga, a parte das patas tem muito musculo, a carne é mais dura , tem um gosto mais azedo.
Entratanto deixei de o fazer durante uns tempos, a minha irmã andava grávida e a situação dela deixou-me... Sentimental, não sei se percebe isto. Ia ter uma sobrinha, andava apaixonado pela idéia. A menina nasceu e...
- Tem noção de quantas mulheres matou durante estes anos?
- Não sei ao certo, mas não deve andar longe das cem. Elas não mereciam a vida. Não mereciam viver.
- Porquê?
- Espalhavam doenças, eram más mães, eram umas putas...
- Quando começou?
- Em meados de 1976. A minha irmã emigrou para França. Eram tempos dificeis aqui. Fiquei sozinho, desenrascava-me a cozinhar e a lavar, não precisave de mulher para mais nada a não ser para aliviar a tensão, percebe-me?
E foi assim que começou. Devo dizer que me deviam estar todos agradecidos por ter tirado da rua todas aquelas putas. Era muito fácil e usei a mesma técnica com todas. Não sujava muito... Iamos para um canto qualquer escuro e depois de elas me fazerem o que eu queria, que tanto podia ser com a boca ou com o corpo, eu enrolava um lenço -sempre o mesmo, era da minha irmã- ao pescoço delas e esganava-as. Depois olhe... Fazia experiências. Eu devia ter ido para cientista... Olhe uma vez levei uma para a mata, amarrei-a a uma árvore durante cinco dias, a parte de baixo do corpo meti dentro de um bidão com água, queria saber como é que a carne apodrecia, depois cheiro tornou-se demasiado nojento para estar ali e tive que a enterrar. E os animais também começaram a alimentar-se dela, aquilo estava a ficar um bocado fora de meu controlo.
- Eu não preciso de ouvir mais nada. Já tenho material suficiente.
E sem mais uma palavra a jornalista guarda o gravador e sai da sala da prisão. Vai para casa a pensar que sensações terá quando começar a fazer as experiências dela.