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Lembro-me...

por Alice, em 10.09.15

Lembro-me de há uns tempos ler uma notícia sobre a Suíça querer controlar a fronteira e as entradas de estrangeiros em busca de melhores condições de vida e partidos dos diversos países que se encontra em crise na Europa. Muitas vozes se levantaram, muitos insultos se leram e disseram.

Lembro-me que os pais  quando tinham 20/25 anos fugiram de Portugal, o meu pai fugiu da guerra no Ultramar, a pé, atravessou fronteiras, subornou guardas de fronteiras, até chegar a França arranjou emprego, onde arranjou uma casa para viver e mais tarde a a minha mãe foi lá ter, na mesma clandestinidade. Não foram os únicos portugueses....

Lembro-me que há 3/4 anos muitos amigos meus queriam emigrar, fartos de trabalho precário e até sem trabalho nenhum, tentavam todos os dias a sua sorte e especialmente para países que tinham a fama de pagar bem. O Dubai, o Qatar eram os destinos de eleição. Foram para os países que lhes dava melhores salários, melhores condições de vida. A religião não teve qualquer influência.

 

A história dos refugiados divide o país. Aliás, qualquer história divide as opiniões. Esta dos refugiados é especialmente confrangedora porque há anos que sabemos do que se passa naquela guerra infame. Das torturas, dos bombardeamentos, dos massacres, das mortes por pura propaganda, por vontade de deixar o resto do mundo de joelhos por medo. Já que em cinco anos não fomos capazes de pôr um travão numa guerra que nós ajudamos a proliferar, pelo menos ajudemos estas pessoas que fogem em busca de paz, de uma noite de sono sem sobressaltos, em busca daquilo que nós temos como dado adquirido e que não conseguimos dar valor.

Os argumentos usados são de uma demagogia oca porque até à semana passada ninguém queria saber dos sem-abrigos, excepto aqueles que diariamente fazem o trabalho junto deles. Não se deve julgar um povo todo por uma facção extremista, senão poderíamos também nós julgar famílias inteiras só porque um dos membros é assassino, violador, criminoso. No meio de tantos pode vir um grupo mais selvagem e pronto para arranjar problemas, claro que sim, isso também acontece nos estádios de futebol, em grandes manifestações, onde há um ajuntamento grande pessoas, poderá haver sempre um grupo que vá para lá para criar confusão. 

O que são 4 ou 5000 pessoas no nosso país? Quantos não temos 200 000 só em Angola, que foram em busca de uma vida melhor? Bem sei que parece que estou a confundir conceitos de refugiados, com migrantes, com emigrantes, mas são tudo pessoas , seres humanos que partem em busca de uma vida melhor seja ela monetária, seja a paz. 

 

 

 

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Passados e presentes.

por Alice, em 06.10.10

De vez em quando, de tempos a tempos tenho um passado que volta. Parece que sabe, adivinha. 

Chega de mansinho, com boa disposição, com bom humor. Assombra, acarinha, envolve. Depois parte de mansinho também, deixando o caos e a confusão na cabeça. Foi sempre assim, mas é bom, faz-me sentir viva.  

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An open letter to the heart

por Alice, em 04.10.10

"Querido coração,

 

desde sempre, na verdade desde que nasci, dei-te liberdade total para amares, para te apaixonares, para gostares, para odiares o quê e quem tu quiseste. Não deixei nunca que o cérebro te pusesse limitações. Sim, é verdade que me deste alegria, felicidade, prazer, emoções que de outra forma teria sido impossível eu ter experimentado.

 

Fizeste-me chorar de rir e chorar de dor. Fizeste-me ter saudades de vivos e mortos, mostraste-me o que o amor também é amizade e que nada disto dura para sempre. É precisamente neste pequeno ponto que ponho um ponto final.

 

Se por um lado me deste tudo o que há de bom para sentir, também me mostraste a angústia, a tristeza, a solidão, o desgosto.

Percebi muitas vezes que o mau supera o bom. O mau prolonga-se por muito mais tempo que o bom e precisamente porque nada dura para sempre, a partir de hoje vou dar livre arbítrio ao meu cérebro, mais racional, menos sentimental, mais cauteloso, menos espontâneo.

Vou fechar-te aí dentro do peito. Sim, sei que a vida vai perder muita, senão toda a piada que tem, mas eu sei que não me vai voltar a trazer a dor. E, sim é possível viver sem a tua bela interferência.

 

Your's sincerely

C. M."

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O Obélix, personagem da minha banda desenhada preferida, diga-se de passagem, tinha medo que o céu lhe caísse em cima da cabeça.

 

Toda a vida morei numa casa, daquelas com um quintal pequenino, só rés do chão. Claro que sempre frequentei apartamentos de pessoas da família e amigos, mas como não era por muito tempo as ideias absurdas não me atingiam e se calhava ficar a dormir no apartamento de  alguém, como era por pouco tempo, também não me afligiam estas ridicularias. O sucede agora é que  não há noite, mas não há mesmo noite, em que não esteja refastelada no sofá que me provoca torcicolos e que não me lembre que às tantas aquilo cai tudo por ali abaixo e  vou ficar espalmada no meio de  betão e ferro e aço. Consigo mesmo visualizar a cena macabra com os ossos a furar a carne, sangue por todo o lado,  tudo esmagado, tudo destruído... Na minha antiga casa, tinha mais hipóteses de sobreviver uma vez que era só o tecto e o telhado que estava em cima de mim, nesta não, tenho quatro andares para cima, as mesmas hipóteses decrescem proporcionalmente ao volume de betão e ferro e electrodomesticos e mobilias que tenho por cima da minha cabeça... E assim, passo o resto da noite a stressar com qualquer pequeno barulho que oiço, penso logo "vai ser agora" até que o sono se apodera de mim e tenho uma noite descansada.

 

Lentamente começo a habituar-me a viver assim e não, não lhe conto isto, porque às tantas ele percebia que está a namorar com uma louca e interna-me no Magalhães Lemos...

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Such a perfect day....

por Alice, em 17.03.10

 

Acordei, olhei pela janela e não chove. Dói-me a cabeça.

 

Levantei-me, liguei o aquecedor.

 

Casa de banho. O chão cheio de vidros de um suporte de uma vela que a Miss Lontra deitou ao chão em mais uma das suas noites de insónia. A minha vingança é acordá-la. Vou procurá-la, está no escritório a dormir. Como é surda assusta-se e digo-lhe "toca a acordar, se não dormires de dia à noite estás mais  sossegada". Tomo banho, lavo os dentes.

 

Quarto. Oiço-o a roncar. Abro o guarda vestidos  e tiro a primeira coisa que me vem parar às mãos, calças de ganga, camisola de gola (acho que não as vou deixar de usar este ano) preta.

 

Cozinha. ligo a máquina do café, ponho o pão na torradeira.

 

Sala. As revistas todas no chão mas como já a tinha acordado só olhei para ela. O companheiro da Miss está a olhar para mim com ar ensonado e zangado como só aquele gato sabe fazer, como quem diz "és sempre tu a acordar-me". Eu ignoro-o da mesma forma que ele me ignora sempre  e todos os dias.

 

Cozinha. Abro o frigirifico, tiro a manteiga e barro na torrada. O relógio marca 9h certas. Como e bebo um copo de sumo de laranja (acordei cheia de sede), tiro um Brufen para a cabeça, tomo café.

 

Volto ao quarto. Desligo o despertador e o aquecedor. Pego no telemóvel, nos cigarros, no casaco, dou-lhe um beijo leve para não o acordar. Procuro as chaves. O companheiro da miss está à porta à espera que eu saia, deve ser a altura mais feliz do dia dele, o momento em que eu saio porta fora e eles ficam sozinhos. A miss está na sala a ver os passaros.

 

Saio. Chamo o elevador que é leeento. Piso -2. Percorro o estacionamento, saio e lá está o meu carro para mais uma viagem. Ligo o rádio na Antena 3, sempre a mesma estação já há anos. Venho pelo caminho a ouvir música, a fumar aquele cigarro que me sabe tão bem  e a pensar que vou morrer num acidente de carro ou de cancro. Pondero fazer um testamento para os meus poucos bens.

 

Chego à terrinha e o boss já cá está. "Vais correr hoje?" referência às sapatilhas que trago calçadas. Sorrio e respondo "Bom dia" com um sorriso hipocrita e a pensar " queria tanto estar em casa".

 

Tiro o casaco. Visto a bata. Volto a sair para tomar café. Volto a fumar um cigarro e agora sim, agora estou pronta para aturar o povo. Mas não há povo para aturar, tirando um Sr. que caiu e ficou todo estragado na cara e com os óculos todos empenados, não houve mais nada para fazer.

 

Meia-hora. Tiro a bata, visto o casaco e vou almoçar.

Chego à minha mãe. Ainda estou a sair do carro e já oiço a vaca a ladrar na minha prima à espera de sair. A ninja está também à espera que abra a porta para sair a correr sem dar o "Olá" aqui à mãe. Está a perder-me o respeito...

Tinha rojões que comi no pão com preguiça de fazer um qualquer acompanhamento. Vi o resto do programa da manhã da Sic que era da Fátima Lopes e agora é da Rita qualquer coisa. Vejo as noticias. Adormeço.

 

Acordo. São 14h. Vou à casa de banho. Lavo os dentes, faço xixi, visto o casaco e regresso à loja.

Vou tomar café mas rápido, hoje não estou para conversas, não me apetece falar.

Ligo para a companhia da água aqui do sítio, a Indáqua e reclamo de uma avaria na via publica que já tem semanas, a água corre sem parar de dia e de noite. Um pecado.

Olho para o trabalho e penso "Hoje não... Não tenho paciência para papéis e facturas e cenas dessas".  Volto para a net. Volto a ler as noticias já lidas e os blogues que continuam iguais.

Pego na revista do Sol e do JN do fim de semana. Farto-me rápidamente.

Pego no meu diário, não me apetece escrever.

Volto a pensar que vou morrer de cancro que já está em desenvolvimento sem eu saber e sem eu ter dado ordem para se instalar no meu corpo. 

Olho para a rua, vou fumar um cigarro, pondero contar quantos carros passam enquanto eu fumo, desisti no 37.

 

São 17.30h vou tomar café. É a minha hora limite para tomar café. Volto já.

 

Olho para o relógio, 17.57h falta 1.33h para me ir embora... E a cabeça não deixou de doer.

 

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